domingo, 2 de junho de 2013

ENTREVISTA//DIA DA INDÚSTRIA

O Maranhão não para: entrevista com Edilson Baldez, presidente da FIEMA


Augusto do Nascimento

O Imparcial

Publicação: 25/05/2013


O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema), Edilson Baldez das Neves, é engenheiro e empresário do setor de construção civil e hotelaria. Em experiências anteriores, o atual líder do empresariado industrial maranhense já ocupou outros cargos em presidências: do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Lanchonetes, Bares e Similares do Maranhão, assim como da secção estadual da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH). Atualmente, Edilson das Neves é membro da diretoria da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e coordenador da Ação Pró-Amazônia.



(GILSON TEIXEIRA/OIMP/D.A. PRESS)


Em entrevista exclusiva a O Imparcial, especial para a edição do Dia da Indústria, o empresário tratou de questões como os avanços do setor industrial no estado e no país, além dos entraves que ainda precisam ser superados para ampliar o desenvolvimento das indústrias.

O Imparcial - Qual sua avaliação do desenvolvimento industrial do Maranhão?

Baldez - Apesar de o faturamento na indústria ter caído 2,6% no país, em 2012, o Maranhão continua estável, e estamos ampliando o número de indústrias que vêm se instalando aqui. O estado não sentiu esse reflexo [da queda], porque nossas indústrias continuam operando no mesmo nível. Nosso parque industrial está crescendo, estamos investindo através dos grandes projetos, e em torno deles também estão se instalando as pequenas e médias indústrias. As perspectivas são muito boas, porque os projetos estão sendo implantados. Quando entrarem em fase de produção, nosso peso será muito maior, inclusive na produção nacional. Hoje, temos um número de empregados em torno de 100 mil trabalhadores na indústria do Maranhão. A expectativa é em função desses projetos que estão sendo implantados. Mas esperamos que, ainda em 2013, o crescimento seja de pelo menos 10% desse total.

Quais empreendimentos merecem destaque nesse processo?

A Suzano está se instalando em Imperatriz, e começa a produzir já em 2014. A Vale está ampliando a sua capacidade de escoamento de produto; a Alumar já fez a sua ampliação; a soja também está ampliando o seu plantio. Tanto o setor primário como o secundário estão caminhando. Além disso, temos os segmentos mais recentes, de exploração de petróleo e gás. Finalmente, descobriram que temos reservas desses recursos. A MPX já está praticamente produzindo geogás em Santo Antônio dos Lopes. Na geração de energia elétrica, a própria MPX está produzindo, através de uma usina termoelétrica. Temos instalada a usina de Miranda, e a hidrelétrica de Estreito, ambas já operando. Temos energia em abundância na região, até porque estamos próximos de [usina de] Tucuruí, que já estava interligado. Mas queremos substituir parte dessa energia pelo gás. Se o petróleo realmente for confirmado, melhor. Já temos uma planta da Petrobras, na qual é previsto utilizar petróleo bruto vindo do pré-sal. Se concluirmos que a exploração do petróleo é economicamente viável no Maranhão, será mais uma razão para justificar a implantação da Refinaria Premium, em Bacabeira. Não tenha dúvidas que esse é um setor estratégico. O Ministério das Minas e Energia e a própria presidente da Petrobras vêm anunciando que, a partir de julho, a obra será continuada, depois de ter passado por uma reformulação do projeto original.

O que precisa melhorar na indústria maranhense?

Precisa haver um grande esforço para atender à grande demanda de mão-de-obra no Maranhão. Com a ajuda da CNI, do Sesi e do Senai nacionais, fizemos, em 2012 e 2013, um esforço muito grande, e conseguimos atender os projetos não instalados e que ainda não arrecadam para o nosso sistema. Estamos conseguindo formar mão-de-obra, inclusive expandindo a base física, com a construção de mais três escolas [de formação profissional], em Rosário, Açailândia e São Luís. Pelo Sesi, estamos recuperando nossa estrutura para atender à maior demanda. Mas independente disso, estamos fazendo parcerias com o governo do estado e com os municípios, no sentido de cederem estrutura física, como prédios, nos locais onde não temos [esses recursos]. Em todos os municípios, onde há necessidade de formação de mão-de-obra para a indústria, nós vamos, ou com parcerias ou com unidades móveis.

Quais dificuldades o setor ainda precisa superar?

A tributação é um ingrediente que tem dificultado a operação de nossas empresas, principalmente no Norte e Nordeste. No caso do Maranhão, estamos na ponta do Nordeste e início do Norte. O que aconteceu no Brasil, ao longo do tempo, é que tínhamos incentivos em nível nacional para a implantação das indústrias. Todos aqueles estados que se desenvolveram tiveram incentivos. Depois, veio uma legislação em que foi criado o Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária], no qual a aprovação de qualquer incentivo a ser dado pelo estado ou pelo município tem que ser por unanimidade dos secretários de fazenda de todo o Brasil. Estamos lutando, inclusive no Congresso Nacional, para quebrar essa legislação, a fim de que possamos oferecer alguns incentivos para o desenvolvimento da nossa indústria. Além da tributação, temos a dificuldade de logística. Para que se tenha uma logística, é preciso uma infraestrutura. Nós temos problemas de transporte, que é todo rodoviário. O governo federal decidiu investir em infraestrutura, mas [a execução de obras] ainda está muito lenta.

Essa logística inclui o setor portuário. Como está essa questão atualmente?

A vantagem que temos hoje [no Maranhão] é a área portuária que está se estruturando, e que está mais perto dos mercados para onde exportamos. Mas a legislação portuária é presa a um sindicalismo antigo, que se instalou nos portos, e com isso os portos ficaram muito fechados, muito controlados. O custo dos portos no Brasil é um dos maiores do mundo. Tudo o que produzimos para exportar, temos dificuldade na saída dos portos. É cara a exportação, e consequentemente ficamos sem competitividade. Uma logística de infraestrutura é importante, e também tem dificultado a implantação de novas indústrias aqui no nosso estado. Precisamos muito da conclusão da ferrovia Norte-Sul, para o escoamento de grande parte dos produtos que estão indo [para os mercados internacionais] por Santos e outros portos que estão estrangulados, e sem capacidade de ampliar a capacidade [de operação]. O Porto do Itaqui, pelas suas características naturais, teria condições de contribuir decisivamente, quer para o transporte de escoamento como para desenvolver a região do cerrado, passando por Tocantins, indo até Goiás, Mato Grosso. Essa ferrovia, sendo concluída, vai facilitar o escoamento não só de produtos do Maranhão, onde já faz esse transporte. O Porto do Itaqui, hoje, não é bom só para o Maranhão. É bom principalmente para o Brasil.

As exportações são uma boa saída para a produção industrial?

Na nossa indústria, o que está faltando também é que estamos exportando muitas commodities, muita matérias-primas. Por exemplo, [em relação a] o minério que vem do Pará passando por aqui [Maranhão], o ideal é que tivéssemos uma siderúrgica para exportar o material processado. Mas exportamos o minério e depois importamos o produto acabado. A mesma coisa com a soja. Praticamente 90% da nossa produção de soja está sendo exportada in natura, quando deveríamos estar exportando o óleo, o farelo, ração. Estamos muito voltados para trazer empresas para cá que tenham condições de fazer essa transformação.

http://www.oimparcial.com.br/app/not...da-fiema.shtml

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